Dia 06 de Maio de 2015
“O último dia”
Hora: 9h-15h
1- Objectivos: Finalizar o projecto;
Intervenientes: Eu (Beatriz); Ana, educadora Elisabete, pais e crianças;
Intencionalidades Pedagógicas: Finalizar o projecto; reflectir sobre o trabalho desenvolvido ao longo destes dias;
2- Desenvolvimento da actividade/acção:
Tendo em conta, as percepções que temos vindo a ter ao longo destes dias, apercebemo-nos que seria importante focarmo-nos nas conversas informais que temos vindo a ter com os pais e com as crianças sobre a sua alimentação e a importância que estes lhe dão. Achámos também importante, perceber se de facto, o que os pais afirmam continua a não coincidir com o que as crianças dizem.
Com isto, apercebemo-nos que há muitas crianças que não gostam de fruta e que não comem (ou se comem é muito raramente), como também nos apercebemos que as crianças se sentem obrigadas a comer sopa e legumes. Perante isto, verificámos que muitos pais tentam combater este problema mas muitos nada fazem. Por exemplo, muitos pais dizem que trituram os legumes nas sopas e as frutas também, mas outros dizem que como “não gostam” não podem fazer nada contra isso.
Ao contrário dos dias anteriores, apercebemo-nos que os que as crianças diziam sobre os seus hábitos alimentares coincidia com o que os seus pais afirmavam.
Neste que foi o nosso último dia, conseguimos fazer a aula de dança como tínhamos planeado, porque estava bom tempo e porque estavam muitas crianças na instituição. Contudo, nem todas as crianças que estavam na instituição quiseram participar porque alguns pais colocaram alguns entraves, pois como não queriam deixar as crianças sozinhas para irem para o parque infantil fazer a aula de dança, afirmavam que assim, não conseguiriam ouvir a chamada para as consultas, no entanto, não era verdade, pois no parque infantil também dava para lá ouvir a chamada.
Apesar disto, a aula correu bem. As poucas crianças que adeririam à nossa aula, mostraram-se entusiasmadas e afirmaram terem se divertido muito (tanto nos questionários, como nas conversas informais que tive com elas). Os pais também acharam um óptima ideia e alguns deles também quiseram participar.
No decorrer da aula, verifiquei que uma menina estava muito junto a mim e abraçava-me imensas vezes e no fim da aula, desloquei-me até ela e fui tentar perceber o que passava com ela, pois pensei que ela estava com vergonha (o que é normal numa criança) mas achei estranho a expressão dela e a força com que ela me agarrava. Depois de alguns minutos a falar com ela, contou-me que com um ano e meio tinha sido atropelada por um camião e que sentia pouca confiança nela própria. Foi complicado para mim, lidar com esta situação, mas no fim da nossa conversa, ela agradeceu-me e até pediu à mãe para lá voltar para me ver e conversas comigo mais vezes, o que me deixou super feliz!
No fim da aula, aplicámos os questionários aos pais e às crianças e tivemos um óptimo feedback.
No fim da aula de dança, continuámos com as actividades do nosso projecto, normalmente e com as conversas informais com os pais e com as crianças também e com isto, recebemos várias queixas de na instituição não haver alimentos saudáveis nas máquinas que lá há.
Recebemos também vários “comentários” de pais, a dizerem que apesar de alimentarem os seus filhos de forma saudável, estes permaneciam muito gordos e que queriam consultar um médico, pois achavam que era do próprio organismo deles. O que será que isto demonstra? Que será do organismo das crianças ou que a história de terem uma alimentação saudável, não será de tudo verdade?
No fim de termos terminado o nosso projecto, tanto as educadoras como os pais agradeceram-nos imenso pelo trabalho que desenvolvemos e elogiaram a importância do tema que lá desenvolvemos.
3- O que aprendi?
Com este projecto, aprendi imenso, tanto a nível académico, como a nível pessoal e fiquei bastante satisfeita com o meu trabalho.
Aprendi, que educar uma criança não é nada fácil e que muitos pais precisam de um certo tipo de auxílio para cuidaram dos seus filhos.
Percebi, também que as crianças são muito sinceras, que não escondem o que pensam contudo, sofrem “muito sozinhas” e não falam das coisas que mais os afecta com toda a gente, apenas com aquelas com quem elas se sentem mesmo à vontade e sentem que estas, lhes transmitem confiança, como foi o caso daquela menina que me contou ter sido atropelada, porque, tal como ela me disse, gostou logo muito de mim e porque eu lhe transmiti muita confiança.
Ao longo destes dias tivemos uma enorme diversidade de casos, na nossa instituição que nos irá ajudar bastante para termos um grande variedade de casos e crianças, para relatar no nosso relatório final.
Aprendi, também como falar com os pais e com as crianças sobre temas bastante pertinentes, como é o caso da importância de ter uma alimentação saudável.
Com tudo isto, percebi também o peso que a escola e que a família têm, na educação de uma criança e os problemas que a falta de uma delas (ou das duas) pode causar e percebi, ainda a falta de importância que muitas famílias e a própria sociedade dão aos hábitos de ter uma alimentação saudável.
4- Mobilização de conhecimentos académicos:
“A aprendizagem acontece, dentre outras formas, numa medida de tempo. Tempo para descobrir, para constatar, para reflectir e para fazer as necessárias sínteses. Poder-se-ia afirmar que existe um tempo para aprender, que tem inúmeras dimensões, tais como a afectiva e a cronológica.
Em contrapartida, na dita sociedade aprendente, as pessoas têm pressa...
As famílias vivem a repercussão das mudanças sociais provocadas pela sociedade da tecnologia, da informação e do conhecimento, num clima de insegurança e inquietude. Correm atrás das informações, correm atrás de trabalho, do dinheiro, da segurança, da estabilidade e não têm tempo para educar suas crianças e seus jovens. Essa situação gera uma tendência nas famílias de transferir para a escola, lugar que no imaginário dos familiares é mais competente, as tarefas educativas que são intransferíveis.
A escola, igualmente apertada entre o tempo escolar, o tempo social e o tempo da criança, acaba atropelando o processo de aprender dos alunos! O discurso de que “estou atrasada com a matéria” ou ainda, “eu sei que é importante trabalhar o grupo, mas não tenho tempo para isso, tenho muita matéria para dar!” ainda é recorrente em nossas escolas.
Aprender é um ato relacional e requer tempo e disponibilidade, dentre outras coisas!
Que fazer diante de tantos atropelos, exigências e características individuais? Como encaminhar processos educativos mais competentes e que atendam as demandas atuais?
Proponho uma reflexão voltada ao entendimento que o grande problema não é a falta de tempo real, mas a falta de clareza, de objectivos e de autoridade dos adultos educadores, quer sejam pais ou professores. Pais e Educadores têm sido ou muito severos, ou muito permissivos, desperdiçando um tempo valioso para a educação e o pleno desenvolvimento de crianças e jovens.
É essencial construirmos um tempo especial na e da escola para o aluno... Um tempo para o aluno aprender!”
Texto escrito por Isabel Parolin - Pedagoga, psicopedagoga e Mestre em Psicologia da Educação. Psicopedagoga clínica e consultora. Institucional de escolas públicas e privadas. Palestrante para pais e professores. Membro do grupo de pesquisas Aprendizagem e Conhecimento na acção educativa da PUCPR. Autora de vários livros, dentre eles: Pais Educadores – Quem tem tempo de Educar? Da editora Mediação.
(imagem retirada do "google imagens"; espaço infantil da Consulta Externa de Pediatria do Hospital Santa Maria)